quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Tempo de florescimentos

Esses dias eu conheci um mocinho na balada. Muito educado uma gracinha, alguns anos mais jovem. A aproximação dele aconteceu de forma direta e gentil, muito bem orientada. Desde o inicio ele sabia o que queria e exalava a confiança (talvez proveniente da extrema beleza) de que podia qualquer coisa que quisesse... Alguns minutos conversando comigo, ele tentou um beijo. Não dei.


Não sei dizer ao certo por que sequer troquei telefone com ele. Talvez – apesar do meu desejo – eu tenha usado aquela situação para refletir e perceber que o discurso feminista que a gente sustenta tanto, aquele mesmo da independência e iniciativa feminina, pode gerar o efeito contrário muitas vezes.


A gente estava tendo uma conversa deliciosa... Mas quando o amigo chegou com um olhar de reprovação “você está nessa ainda?” e o moço se deu conta que havia passado 30, 40 minutos conversando apenas comigo em uma boate lotada de gente (leia-se muitas possibilidades), retraiu-se. Fui educada e simpática, agradeci a companhia e saí.


Porque contar essa história? Porque eu acho que toda mulher merece um cara que gaste mais de 40 minutos insistindo, conhecendo e se deixando conhecer antes de tentar colocar a língua dentro da minha boca. Nada contra a filosofia do “ficar”... Mas é que hoje eu vejo que a nossa vida perdeu boa parte do romance, e da corte, do flerte, da conquista, da sedução... As relações são quase todas fast-foods, e a gente tem tanta fome de viver, que vai atropelando fases e vai atropelando tudo. E mata – sem se dar conta – o tempo necessário para perceber se aquela história podia ser mais... Se o cara era legal, ou você era legal... Vai saber.


Eu acho que eu estou ficando careta. Nunca achei que eu fosse dizer isso, mas estou. Acho que a gente veio “deseducando” os homens durante todo esse tempo, e deixou tudo tão fácil, tão disponível e tão acessível que matou o encanto.
Por que simplesmente não beijar o cara quando estiver com vontade? Por que relutar em atender a cada desejo e necessidade nossa (inclusive sexual) no instante mesmo em que elas aparecem? Afinal, não somos mulheres modernas? Respondo.


Porque depois de um tempo, a maioria de nós reclama de solidão e vazio. E não entende por que ele não percebeu que você é incrível e a convidou para a festa da empresa. E se sente abandonada, sozinha...


Fazer almoço completo, com salada gostosa, uma massa com molhos, temperos e proteínas escolhidas, pode dar o trabalho de ir pegar os tomates frescos na feira, marinar o peixe, lavar as folhas, misturas condimentos, mas traz uma experiência e um sabor que não podem ser comparados ao de passar no drive-through daquela loja de sanduiches e ingerir em dois minutos o cheeseburguer com bacon.


Eu não quero beijos fast-food, não quero sexo fast-food. O cheeseburger pode ter lá o seu espaço e seu charme, mas é barato, faz mal pro coração e deixa a gente se sentindo feia no dia seguinte.


Como nós os homens também querem ser arrebatados até perderem o juízo, também querem se sentir vivos! Querem se apaixonar e – por mais que neguem – encontrar aquela que enlouquecerá suas cabeças. Me chamem de quadrada, mas eu não acho que vou ser a moça cuja a língua ele conheceu antes mesmo de dar oi. A mesma moça que depois, em casa, vai ficar se perguntando por que histórias incríveis só acontecem no cinema.




(Ao moço dos olhos azuis que conheci numa noite de sexta em novembro naquela boate em Brasília, saiba: eu teria dado o meu telefone a você.)
Extraído do blog serendipities

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