quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A senhora com a bicicleta cor-de-rosa e o gatinho na cesta




Ontem eu fui correr no parque da cidade. Era de manha bem cedinho. O sol estava bom, havia aquele ventinho, aquela lagoa, o frescor do verdinho... Perdida em pensamentos, me sentia sozinha... Foi quando tive a atenção atraída para uma senhora, lá nos seus 60 anos, com a cabeça branquinha, que andava super lenta numa daquelas bicicletas Ceci de cestinha. Sabe aquelas cor-de-rosa, aro 20, que toda adolescente da minha geração desejou muito ou teve uma?

Comecei a caminhar aproveitando para respirar fundo e observar aquela senhora de perto. Passou por mim numa alegria só. A bicicleta era certamente do início doa anos 90, toda desengonçada, e contrastava com a elegância de uma senhora de top e short curtíssimo, que deixava todas as suas décadas de vida. Mas a senhora não parecia se importar... Nem com a celulite evidente, com as gorduras expostas, ou com a cor extremamente branca da pele. Ela pedalava e sorria. Tive vontade de puxar assunto e lhe dar um bom dia. Foi quando me perdia na imagem do gatinho que ela carregava dentro da cesta. Fiquei enternecida.

A felicidade pode ter várias formas. Mas, seguramente, eu estava diante de uma. Aquela senhora, sem pré-conceitos de beleza, expunha seu corpo, despreocupada, ao sol, enquanto passeava numa Caloi cor-de-rosa, sorrindo com o seu gatinho na cesta... ACHEI AQUILO BONITO DEMAIS!

Pensei: “Vou pra casa escrever um texto sobre a simplicidade da vida e a senhora que carregava um gatinho na cesta”, quando recebi uma mensagem de uma amiga querida que contava do fim do relacionamento com o homem que ama. Pensei nas minhas historias, nos meus relacionamentos, senti cada peso de cada desilusão enquanto lia sobre a história dela, e me veio à imagem da senhora com o gatinho na cesta. Existe tanto amor nesse planeta e de tão diferentes formas... E ás vezes é tanto que a gente nem percebe...

Ás vezes eu nem sinto que mereço. São as alunas que nem foram minhas e me presenteiam. É a colega que virou amiga e me escreve compartilhando vida... É a mocinha da feira que me trata com tanto carinho que me faz ficar até sem graça de tanta confiança que em mim deposita. E tem a debatedora no Orkut que virou confidente. E a amiga a mais de 20 anos, que mesmo morando no gelado Canadá, sempre dá um jeitinho de aparecer e me cobrar uma presença. É consideração. E tem o mocinho dos convites que viu em mim uma conselheira e que eu comecei a adorar. E o amigo fotógrafo que tira setenta mil fotos de mim e eu sempre digo que nenhuma presta. E ele tira de novo. E tem o amigo que casou e desapareceu um pouquinho, mas que quando lê no blog declaração de amizade a outro amigo, me liga na mesma hora indignado cobrando. Tem o irmão reivindicado, sempre preocupado me olhando de longe. De quem eu faço piada e ele ainda gosta. E tem o ex-amor que virou amigo depois que a gente descobriu que o amor sozinho não é suficiente para manter junta duas pessoas mesmo que se adoram...

Li o texto da minha amiga, o fim do namoro, lembrei do gatinho na cesta, das outras formas de amor e quis escrever para ela e para mim... Acalme o seu coração. Fique bem e sorria! Existe é muito, muito amor neste universo aqui.

RESPOSTA DE UM E-MAIL DE UMA AMIGA

Coração partido é uma coisa que dói, né? Fiquei pensando na sua história um tempão, tentando achar algum motivo, alguma palavra pra dizer, alguma explicação cósmica que pudesse te acalmar, mas a verdade é que eu não tenho. Dizer que agente deve aprender a cultivar a paciência, a respeitar o tempo do outro, a respirar com tranqüilidade sem exigir muito da vida, parece tão pouco. Então como responder a essa sua angústia, essa inquietação, esse sentimento forte, essa saudade? Eu não sei.

Ás vezes parece que a gente fez tudo o que podia pra dar certo, e não deu... Ou porque era só o seu momento, ou porque só era o momento do outro, ou porque se exigiu demais alem do que se tinha, ou porque se exigiu de menos... Não dá pra saber, não existe receita. O que eu sei, e o que aprendi ao longo desses anos todos é que o que você sente é seu, não é de mais ninguém. Vem de você, e é em você mesmo que fica, encontrando o seu destino ou não...
Lembrei de tanta coisa na vida. Lembrei de uma resposta carinhosa da Isa, amiga querida, me enviada há algum tempo.

“Você sabe que eu sempre fui adoradora de gatos? No momento tenho três aqui em casa. E se tem uma coisa que não depende só da gente é essa de abandonar gatinhos. Se elas se apegam á nos, eles não encontram em qualquer lugar do mundo, você sabia? Uma vez eu tive um gato chamado Frajola que me acordava toda manhã, miando na janela. Uma vez ele teve uma doença contagiosa e o veterinário disse que deveria ser sacrificado. Eu não tive de coragem de matar o meu gatinho e optei por levá-lo para fora de São Paulo, numa região de campos, onde pudesse viver de ratinhos. Após um mês de muitas lágrimas derramadas, ás seis da manhã escutei um miado na janela: Frajola conseguira me achar outra vez.(...) Siga em frente: não pare. Faz parte do processo de iniciação que vivemos não parar nunca diante dos obstáculos. Você ganha forças extras se assim proceder. O mesmo vale para o nosso Frajola: não desanime dos seus sentimentos. Eles são o melhor que temos dentro de nós. E se você não tiver a correspondência esperada, porque esse gatinho é muito enjoado, ou porque ele não consegue enxergar além de si próprio, os sentimentos que você tem são SEUS e eles logo encontrarão outro destino”

Guarde consigo esse espírito: o que você sente é seu e é em você mesmo que está. Vá em frente, o que tiver que ser seu virá ao seu encontro. Faça a sua parte, que os céus fazem a outra. Tenho certeza.
Extraído do blog serendipities

0 comentários: