quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Sobre um dia com a minha mãe




E porque outro dia foi dia da criança e eu saí pra almoçar com a minha mãe, porque tomamos juntas sorvete de tapioca e ela me fez cafuné no cinema, acho que hoje eu quis desenhar um docinho... E, porque carinho é tão bom, jujuba é o máximo e domingo é melhor ainda, porque futebol é legal, mesmo quando o seu time só perde ou empata, porque ouvir seu irmão falar de Direito te enche do maior orgulho da face da terra, eu quis enternecer um pouquinho...

Eu sei eu sou adulta. Quase 26 anos, isso em julho. Mas eu não sou perfeita não. E, como qualquer outro ser humano, preciso de carinho e de alguém que me cuide. E eu quero um cachorro, que lamba dos meus pés ao meu pescoço, que chore quando eu chego em casa e quando eu saio, como faz comigo o da minha avó. Eu quero um cachorro. E eu quero uma casa grande, e uma mesa de jantar, e uma janela que dê para uma paisagem bonita e verde de cerrado, e uma varanda de flor. E eu quero prateleiras... Repletas dos meus livros mais coloridos... E tapetes com almofadas para eu sentar com o computador enquanto eu escrevo meus textos...

Eu seu que eu sou adulta. Mas é que eu quero brincar de cozinhar. E ter 1.793 potes com ervas, pimentas e massas de tamanhos diferentes. E quero testas o ponto daquele molho com aquele tomate especial que parece o da Itália. E eu quero uma porção de taças de peixes, não porque são chiques, mas porque eu acho lindas mesmo. E quero convidar meus amigos pra sentarem no chão, apesar de sofás lindos.

E um dia eu também quero uma rede, e um ombro na rede. E uma voz grossa que vai chamar o cachorro. E um pé quentinho. E mãos pro dengo, pra bronca, pro anseio. Pra massa de pão no domingo. E boca pra opinião, pra calar, pra exigir, pro desejo. E vai ser tão bonito quanto as flores que eu vou escolher pra enfeitar as cabeceiras... E o sol vai nascer e se pôr comemorando cada momento sublime. De amor. E eu vou chorar porque ou me lembrar deste texto. E vou saber que foi assim porque eu desenhei e pedi. Como a gente faz quando tem 12 anos e desenha a bicicleta pra mãe.

E um dia vai chegar um bebê. Ou dois. E eu vou saber que ser mãe tem a ver com coisas que eu sequer vislumbro agora. E eu vou escrever sobre elas. Com um misto de encantamento, surpresa, devaneio, fantasia. E vai haver fraldas e colos e choros e noites sem dormir. E primeiro dia na escola, primeira briga no colégio, primeira lição difícil de aprender e de ensinar. E medo. Medo de deixar que a vida seja, por ela mesma, sozinha. E vai haver proteção. E apoio na queda. E queda. E a correção de uma mãe.

E um dia, quando ele estiver bem crescido, vai haver um cinema. E um sorvete de tapioca, um colo, um cafuné e uma emoção. E eu vou lembrar deste texto. E, se Deus quiser, eu vou poder beijar também minha mãe. E vai haver cabelo branco, meu e dela, e perna cansada e postura moída e, apesar do cuidado com a pele, rugas levinhas pra mostrar que crescer é a vida, que a gente pode brincar e fazer de conta o tempo inteiro que o tempo não tem pressa de passar. E que a gente pode andar de montanha russa de olhos fechados... Quando a gente tem alguém em quem confia para apertar nossa mão.
Extraído do blog serendipities

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