terça-feira, 24 de agosto de 2010

Palavras do Coração



As lágrimas mais amargas derramadas sobre os túmulos são as palavras não ditas e atos não realizados.
Harriet Beecher Stowe



A maioria das pessoas precisa ouvir alguém dizer “Eu te amo”. E há vezes em que ouve bem a tempo.
Conheci Connie no dia em que foi admitida na ala do sanatório onde eu trabalhava de voluntária. Seu marido, Bill, ficou perto, nervoso, enquanto ela era transferida da maca para o leito de hospital. Ainda que Connie estivesse no estágio final de sua lata contra o câncer, estava alerta e animada. Nós a acomodamos. Terminei de marcar seu nome em todos os suprimentos de hospital que ela usaria e perguntei se precisava de alguma coisa.
- Oh, sim – disse-, será que você poderia me mostrar como usar a televisão? Gosto tanto de novelas, que não quero perder o que está acontecendo.
Connie era uma romântica. Adorava novelas de TV, historias romântica e filme com uma boa historia de amor. Conforme fomos nos conhecendo, ela me confidenciou o quanto era frustrante ser casada há trinta e dois anos com um homem que freqüentemente a chamava de “boba”.
- Ah, eu sei que Bill me ama – disse -, mas ele nunca foi capaz de dizer que me ama, ou de mandar cartões.
Suspirou e olhou através da janela para as arvores no jardim.
- Faria qualquer coisa para ele falar “Eu te amo”, mas simplesmente não é do seu feitio.
Bill visitava Connie todos os dias. No começo, sentava-se ao lado da cama enquanto ela assistia às novelas. Depois, quando ela começou a dormir mais, ele andava de um lado para o outro no corredor do lado de fora do quarto. Logo, quando ela não via mais televisão e passava períodos menores acordada, comecei a passar a maior parte do tempo como voluntária com Bill.
Ele falava de quando trabalhava como carpinteiro e de como gostava de pescar. Ele e Connie ficou aproveitando a aposentadoria viajando, até que Connie ficou doente. Bill não conseguia expressar o que sentia sobre o fato de sua esposa estar morrendo.
Um dia, depois de tomar café na lanchonete, puxei uma conversa com ele a respeito de mulheres e de como precisamos de romance em nossas vidas, como adoramos receber cartões sentimentais e cartas de amor.
- Você diz a Connie que a ama? – perguntei (sabendo a resposta), ele me olhou como se eu fosse louca.
- Não preciso – disse- Ela sabe que a amo!
-Tenho certeza de que ela sabe – falei inclinando-me e tocando suas mãos ásperas de carpinteiro que seguravam a xícara como se fosse a única coisa à qual ele pudesse se agarrar. Mas ela precisa ouvir, Bill. Ela precisa ouvir o que significou para você durante todos esses anos. Por favor, pense nisso.
Voltamos para o quarto de Connie. Vil desapareceu lá dentro e eu fui visitar outro paciente. Mais tarde, vi Bill sentado ao lado da cama. Ele segurava a mão de Connie enquanto ela dormia. Era o dia 12 de fevereiro.
Dois dias depois eu estava andando pela ala do sanatório ao meio-dia. Lá estava Bill, apoiado contra a parede do corredor, olhando para o chão. Eu já soubera, através da enfermeira chefe, que Connie morrera às 11 horas.
Quando Bill me viu, permitiu que eu o abraçasse por um longo tempo. Seu rosto estava molhado de lágrimas e ele estava tremendo. Finalmente encostou-se de novo na parede e respirou fundo.
- Tenho que dizer algo – falou. – Tenho que dizer como me sinto bem por ter dito a ela. – Ele parou para assoar o nariz. – Pensei muito a respeito do que você me disse e, essa manhã, falei para ela o quanto a amava e como era maravilhoso estar casado com ela. Você deveria ter visto seu sorriso!
Entrei no quarto para me despedir pessoalmente de Connie. Lá, na mesa-de-cabeceira, estava um grande cartão de Dia dos Namorados que Bill lhe dera. Você sabe do tipo sentimental que diz: “Para minha esposa maravilhosa... Eu te amo!”

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